Este estudo visa compreender o significado do sinal de Caim, conforme mencionado em Gênesis 4, e sua possível conexão com os gigantes descritos em Gênesis 6. Duas teorias principais são exploradas sobre a identidade dos “filhos de Deus” mencionados em Gênesis 6.
Primeira Teoria: Filhos de Deus como Anjos
A primeira teoria sugere que os “filhos de Deus” eram anjos. Esta interpretação se baseia em Jó 1.6: “Certa vez os anjos vieram apresentar-se ao Senhor, e Satanás também veio com eles.” No entanto, essa teoria enfrenta objeções significativas. Jesus declarou em Mateus 22.30: “Na ressurreição as pessoas não se casam nem são dadas em casamento; serão como os anjos no céu.” Marcos 12.25 e Lucas 20.35 ecoam essa declaração, indicando que os anjos não se casam nem se reproduzem.
Além disso, Judas 1.6 afirma: “E quanto aos anjos que não mantiveram sua posição de autoridade, mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o julgamento do grande Dia.” Apocalipse 9.14 menciona: “dizendo ao sexto anjo que tinha a trombeta: ‘Solte os quatro anjos que estão amarrados junto ao grande rio Eufrates’.” Esses textos podem se referir aos anjos que se rebelaram com Lúcifer, não necessariamente aos de Gênesis 6.
Segunda Teoria: Filhos de Deus como Descendentes de Sete
A segunda teoria, considerada mais coerente, identifica os “filhos de Deus” como os descendentes de Sete. Gênesis 4.25-26 diz: “Novamente Adão teve relações com sua mulher, e ela deu à luz um filho a quem chamou Sete, dizendo: ‘Deus me concedeu um filho no lugar de Abel, visto que Caim o matou. Também a Sete nasceu um filho, a quem deu o nome de Enos. Nessa época se começou a invocar o nome do Senhor.” Atos 2.21 afirma: “E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Portanto, os “filhos de Deus” seriam os descendentes piedosos de Sete, enquanto as “filhas dos homens” seriam descendentes de Caim, que se afastaram de Deus após o pecado de Caim.
Após o pecado e punição de Caim, ele se afastou da presença do Senhor e estabeleceu-se na terra de Node (Gênesis 4.16). A partir daí, é narrada a descendência de Caim, enquanto Gênesis 5 descreve a linhagem de Sete, culminando na observação de que foi então que os homens começaram a buscar a Deus. Gênesis 6.1-2 diz: “Quando os homens começaram a multiplicar-se na terra e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram bonitas, e escolheram para si aquelas que lhes agradaram.” Em Êxodo 34.16, Deus instrui Moisés: “E quando escolherem algumas de suas filhas como esposas para os seus filhos, e essas filhas prostituírem-se com os seus deuses, elas levarão os seus filhos a fazer o mesmo.
Gigantes e a Interpretação do Sinal de Caim
A questão dos gigantes é central para esta discussão. Gênesis 6.4 afirma: “Naqueles dias havia gigantes na terra, e também posteriormente, quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos. Eles foram os heróis do passado, homens famosos.” Isso levanta a questão de sua origem. Sugere-se que os gigantes foram criados para diferenciar Caim e sua descendência dos demais humanos.
O sinal colocado em Caim, portanto, poderia ser o gigantismo. Este sinal faria quem o visse temer Caim, garantindo sua proteção conforme descrito em Gênesis 4.14-15: “Hoje me expulsas da terra, e terei de me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer que me encontrar me matará. Mas o Senhor lhe respondeu: ‘Não será assim; se alguém matar Caim, sofrerá vingança sete vezes’. E o Senhor colocou um sinal em Caim para que ninguém que viesse a encontrá-lo o matasse.” Quando Moisés enviou espias à terra de Canaã, eles relataram a presença de pessoas de grande estatura (Números 13.28, 31-33): “Mas os homens que tinham ido com ele disseram: ‘Não podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós’. E espalharam entre os israelitas um relatório negativo acerca daquela terra. Disseram: ‘A terra para a qual fomos em missão de reconhecimento devora os que nela vivem; todos os que vimos são de grande estatura.’ Vimos também os gigantes, os descendentes de Enaque, diante de quem parecíamos gafanhotos a nós e a eles.”
O medo que os gigantes inspiravam é corroborado no confronto de Israel com Golias, onde 1 Samuel 17.11 afirma: “Ao ouvirem as palavras do filisteu, Saul e todos os israelitas ficaram atônitos e apavorados.”
Sobrevivência do Gigantismo após o Dilúvio
A sobrevivência dos gigantes após o dilúvio é explicada pela possibilidade de que a esposa de Cão, filho de Noé, carregava o gene do gigantismo, sendo descendente de Caim. Vários pontos reforçam essa teoria:
- O pecado de Cão, que viu a nudez de Noé e foi amaldiçoado através de seu filho Canaã (Gênesis 9.20-27): “Quando Noé acordou do efeito do vinho e descobriu o que seu filho caçula lhe havia feito, disse: ‘Maldito seja Canaã! Escravo de escravos será para os seus irmãos’.”
- A terra de Canaã, nomeada após o filho de Cão, foi habitada por sua descendência (Gênesis 10.6-19). Gênesis 12.5 diz: “Levou Abrão sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que haviam adquirido e as pessoas que haviam vindo a Harã; partiram para a terra de Canaã e lá chegaram.” Josué e os espias viram gigantes na terra de Canaã (Números 13.28, 33).
- Os filisteus, conhecidos por gigantes como Golias, descendem de Cão (Gênesis 10.14; 1 Samuel 17.4): “Um guerreiro chamado Golias, que era de Gate, veio do acampamento filisteu. Tinha dois metros e noventa centímetros de altura.”
Conclusão
Conclui-se que o sinal em Caim pode ter sido o gigantismo, uma característica hereditária transmitida através da esposa de Cão, explicando a reemergência de gigantes após o dilúvio. Esta interpretação busca reconciliar as referências bíblicas com os relatos de gigantes, oferecendo uma explicação para sua persistência na narrativa bíblica.
Última modificação: 9 de novembro de 2024